Grande parte de nós não mantém pela vida inteira o mesmo gosto musical ou os mesmos artistas favoritos, é até comum que a música acompanhe diretamente os períodos em que vivemos e como vivemos, e soaria estranho se num momento de felicidade nos isolássemos no quarto ouvindo aquela velha playlist de canções depressivas a nível corta pulsos, ou talvez não, deve existir quem se sinta feliz ouvindo as músicas mais tristes do mundo. E como gosto de dizer, o gosto musical e o que se sente escutando suas músicas favoritas são determinados, em maioria, por contingências individuais. Só a pessoa sabe do que sente e do que lhe agrada, e isso dificilmente nos é acessível, a não ser por relato verbal do próprio indivíduo. Ainda que siga modismos, tendência ou só acompanhe o que a rádio/tv mostra, acredito que gostar de música envolve mais do nosso aspecto emocional do que podemos presumir.
Vou evocar o lado mais pessoal para conseguir falar de nós, que de certa forma, vivenciamos a música como parte intrínseca de quem somos e como nos sentimos. Lembro que segui uma ordem cronológica muito incomum aos meus amigos, que começaram do mainstream e foram se aprofundando nos redutos do underground ou se perdendo completamente na música pop. Também comecei com as bandinhas óbvias de new metal, mas logo saltei pro fervoroso e religioso Black Metal e seus agregados, me rendendo e buscando artistas que ninguém, além de um punhado de estranhos na internet, havia ouvido falar. Fui daqueles garotos esquisitos que gastavam horas do seu dia reclamando do cristianismo ao som de Mayhem, Sarcófago, Satyricon e Samael, sem esquecer o Marduk, como num grito desesperado por atenção ou aceitação. Era uma fase de conflito, de confusão, de desespero e todas essas bandas, que já nem consigo ouvir com a mesma simpatia, diziam muito de mim e de como me sentia. E sendo Black Metal era cabível presumir que eu me sentia horrível. Não me lembro o ano ou em que momento eu decidi voltar os ouvidos para outras coisas, lembro que baixei por acaso o Something To Write Home About do Get Up Kids, num primeiro momento detestei, mas algo naqueles acordes me convenceu a continuar escutando, ainda mais por ser um gênero detestado, o tal do emo, e eu ter uma inclinação ao que considerem subversivo ou tosco. De certa forma foi uma virada em minha vida, algo como um réveillon de fase musical, mas dizer isso seria tosco demais.
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