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terça-feira, 5 de março de 2013

NOTICIA


Morreu Hugo Chávez

O Presidente da Venezuela morreu hoje na sequência de um cancro. Reeleito para um quarto mandato, não resistiu até à tomada de posse, cuja data estava em aberto.
Hugo Chávez no dia 8 de dezembro de 2012, no Palácio Miraflores, em Caracas
Hugo Chávez no dia 8 de dezembro de 2012, no Palácio Miraflores, em Caracas
Palácio Miraflores/Reuters
Hugo Chávez com as filhas Maria (à esquerda) e Rosa, no hospital de Havana, no passado dia 15 de fevereiro Reuters Hugo Chávez com as filhas Maria (à esquerda) e Rosa, no hospital de Havana, no passado dia 15 de fevereiro
É oficial: o Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, faleceu esta terça-feira. O anúncio foi feito pelo vice-presidente Nicolas Maduro na televisão estatal.
O agravamento do estado de saúde de Chávez já tinha levado o seu braço-direito a dirigir-se hoje à nação, em direto do Palácio Presidencial de Miraflores em Caracas, 
Num discurso pessimista, Maduro acusou os "inimigos da revolução" de terem provocado a doença no líder venezuelano, abrindo portas para que o caso possa vir a ser investigado, e revelou a expulsão de um diplomata dos EUA, acusado de conspiração.
Era o líder mais controverso da América Latina. Chegou ao poder em 1998 e foi reeleito três vezes (2000, 2006 e 2012). De permeio, venceu um referendo que alterou a Constituição, consagrando mandatos presidenciais ilimitados. Hugo Chávez gostava do poder e sonhava não abandona-lo.
A vitória nas presidenciais de 7 de outubro passado, quando a o seu estado de saúde já era mais noticiado do que os seus feitos políticos, possibilitava-lhe uma longevidade política até 2019. Ao seu povo, Chávez pediu mais tempo para concluir a sua revolução socialista.
Chávez subiu ao poder em 1998, apoiado numa plataforma anti-pobreza e anti-corrupção. Ganhou as eleições com 56% dos votos e, no ano seguinte, lançou o Plano Bolívar, para recuperar infraestruturas decadentes e acabar com as privatizações.

Paraquedista golpista


Os seus apoiantes diziam que ele era a voz dos pobres. Os críticos acusavam-no de ser crescentemente autocrático e recordavam o seu "modus operandi" anterior à presidência. A 4 de fevereiro de 1992, ele liderara uma tentativa de golpe contra o Presidente Carlos Andres Perez. Chávez tinha 38 anos e era paraquedista.
Entrara para a Academia Militar aos 17 anos e ali se deixara deslumbrar pela figura e pelos ideais de Simon Bolivar, o revolucionário venezuelano que influenciou as independências na América Latina.
Em 1992, Chávez tentara tirar dividendos políticos do descontentamento popular resultante das medidas de austeridade e de repressão adotadas pelo Governo e que desencadearam protestos e distúrbios ("El Caracazo"). Mas o golpe acabaria por falhar.
Passou dois anos na prisão, sendo perdoado e libertado em 1994 pelo então Presidente Rafael Caldera. Em 1997, fundou o Movimento Quinta República, como que preparando a transição da fase de soldado para a fase de político. Um ano depois, era chefe de Estado da Venezuela.

Deposto durante 47 horas


A 11 de abril de 2002, uma tentativa de golpe afastou Chávez do poder durante 47 horas. A manobra foi reconhecida pelos Estados Unidos, o que levou Chávez a acusar Washington de ter orquestrado o golpe.
A relação entre Caracas e Washington era turbulenta. Chávez chamava ao Presidente dos EUA George "Mr. Danger" Bush (George "Sr. Perigo" Bush). Iniciada a guerra no Afeganistão, em 2001, Chávez acusou os EUA de combaterem o terror... com mais terror.
Seguiu-se a guerra no Iraque e Chávez continuou a não poupar Bush. "O Diabo veio cá ontem", disse, benzendo-se de seguida, a 20 de setembro de 2006, na Assembleia Geral da ONU, referindo-se ao discurso, na véspera, do chefe de Estado norte-americano. "Ainda cheira a enxofre."

"Por qué no te callas?"


Inversamente à animosidade com Bush, desenvolveu uma grande proximidade com Fidel Castro, uma espécie de pai político, a quem visitou várias vezes em Havana após "El Comandante" se ter afastado da política ativa por razões de saúde.
De língua afiada, assegurava aos domingos de manhã o programa televisivo "Alô Presidente!", onde discursava, entrevistava, cantava e dançava e respondia a perguntas dos telespetadores.
Tornou-se um fenómeno mediático, inclusive no dia em que ficou sem reação quando Juan Carlos de Espanha lhe atirou na cimeira ibero-americana de 2007, em Santiago do Chile: "Por qué no te callas?".

Quimioterapia em Havana


Filho de um humilde casal de professores, Hugo Chávez Frias nasceu a 28 de julho de 1954, em Sabaneta, no estado de Barinas (sudoeste do país), o mais pobre da Venezuela. Era o segundo de seis irmãos.
Morreu hoje em Havana, após complicações respiratórias na sequência de uma infeção pulmonar. A 30 de junho de 2011, num discurso à nação, Chávez admitiu pela primeira vez que tinha cancro.
A doença tornou-se um assunto de Estado, as suas aparições públicas começaram a escassear em virtude da degradação do seu estado de saúde e das deslocações a Havana para sessões de quimioterapia. Nas redes sociais, dispararam os rumores. Até ao dia em que a notícia da sua morte foi confirmada.

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