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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

NOTICIA


Lévi-Strauss: morreu o pai da antropologia moderna

Um contrato como professor no Brasil, nos anos 30, mudou para sempre a vida de Claude Lévi-Strauss. O autor de 'Tristes Trópicos' morreu em França, centenário e venerado por políticos e intelectuais de todo o mundo.
O homem que lançou as bases da antropologia moderna e foi o principal teorizador do estruturalismo morreu sexta-feira, a poucas semanas de completar 101 anos. Claude Lévi-Strauss morreu na sexta-feira e o seu funeral realizou-se segunda-feira em Lignerolles (centro de França), mas a família só ontem autorizou a Academia Francesa a dar a notícia, "receando ser invadida e ultrapassada pela mediatização da morte e das exéquias".
Filósofo de formação, foi no Brasil que começou, nos anos 30, a sua acção como etnólogo, estudando a vida dos milhares de índios que ainda sobreviviam a poucos quilómetros de São Paulo.
No seu livro mais famoso, Tristes Trópicos (uma espécie de autobiografia intelectual que venceu o prémio Goncourt em 1955), Lévi-Strauss escreveu: "Odeio as viagens e os exploradores." Era já uma crítica ao etnocentrismo, que ocupou parte importante de uma obra que empreendeu a reabilitação do pensamento primitivo.
Nascido em Bruxelas, filho de judeus franceses, formou-se na Sorbonne e estava destinado a uma carreira universitária "normal" se a sua infatigável curiosidade e a aceitação de um convite para dar aulas no Brasil não tivesse dado uma irremediável volta à sua vida. Dessa curiosidade nascem então investigações plasmadas em livros como Estruturas Elementares de Parentesco (1949), Antropologia Estrutural (1958) e O Pensamento Selvagem (1962), que Manuel Maria Carrilho considera "a trilogia que todos liam e que a todos influenciou". Philippe Descola, que lhe sucedeu na direcção do laboratório de antropologia social no Colégio de França, salientou a importância de O Pensamento Selvagem: "Não se trata do pensamento dos selvagens, mas do pensamento selvagem. É uma forma que é apanágio de toda a humanidade e que podemos encontrar em nós, mas preferimos ir procurá-la nas sociedades exóticas."
As suas concepções estão presentes em livros como Raça e História (1952) ou Mito e Significado (1978). Membro da Academia Francesa desde 1973, Lévi-Strauss legou ao Museu do Quai Branly importantes colecções, incluindo fotografias documentando o seu trabalho no Brasil nos anos 30.
Tímido, melómano, admirador da civilização japonesa, atraído pelo budismo nos últimos anos de vida, Lévi-Strauss recusou comparecer a todas as homenagens que lhe prestaram em Novembro de 1008 por ocasião do seu centenário. Manteve-se céptico até ao fim: "Penso no presente e neste mundo: não é um mundo que ame."Mas deixou herdeiros. Muitos poderão hoje como Dinah Ribard, da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris: "Todos os antropólogos franceses são filhos espirituais de Lévi-Strauss."

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