domingo, 1 de fevereiro de 2009
VISEU
CINEMAS E TEATROS ANTIGOS DE VISEU
(PRIMEIRA PARTE)
Neste artigo vamos falar de três salas de cinema que já desapareceram. Em duas delas, o Teatro Avenida e o Teatro Viriato, também tinham lugar espectáculos de teatro. O Teatro Viriato ainda existe, mas funciona num edifício novo. Nos anos da nossa infância e da nossa adolescência, as salas de espectáculos enchiam-se em todas as sessões e ir ao cinema ou ao teatro era sempre uma festa.
Dada a sua extensão, temos que dividir este artigo em duas partes. Hoje vamos falar do Teatro Avenida e do Teatro Viriato. No próximo número deste jornal, falaremos do Cine-Rossio.
TEATRO AVENIDA
O Teatro Avenida é uma das salas de espectáculos dos nossos sonhos e dos nossos devaneios, pois foi nele, na sua plateia e nos seus camarotes, que começámos a amar o teatro, a música e o cinema, desde a mais tenra idade. Embora desconfortável segundo os padrões actuais, era uma das melhores salas de espectáculos do país e nela actuaram as maiores companhias de teatro de revista e de teatro dramático e cómico, com os melhores actores desse tempo, tais como João Villaret, António Silva, Vasco Santana e muitos outros. E no palco do velho Avenida também actuaram algumas companhias brasileiras, entre as quais cumpre salientar aquela que apresentou a sensacional revista Fogo no Pandeiro, com piadas e vestes ousadas para o tempo. A revista Fogo no Pandeiro foi um grande êxito de público e de bilheteira, mas causou um enorme escândalo na cidade. Na área da música erudita cumpre destacar o inolvidável concerto que o jovem grande maestro Pierino Gamba, um genial adolescente italiano de calções, um autêntico Mozart da batuta, deu no Teatro Avenida, com a sala completamente cheia e com os espectadores em delírio. Mas também vimos muito cinema no Teatro Avenida e até nos lembramos de que uma vez, quando era projectado no ecrã o filme Sissi, um filme sobre a romântica imperatriz da Áustria, interpretado pela lindíssima Romy Schneider, na altura precisa em que o nome Sissi aparecia em grande letras no genérico do filme, um gandulo dos camarotes gritou muito alto chichi e começou a mijar na plateia. Enfim, o Teatro Avenida também era às vezes um Cinema Paraíso.
TEATRO VIRIATO
O Teatro Viriato é a outra sala de espectáculos dos nossos sonhos e dos nossos devaneios, já que começámos a frequentá-la, na companhia da nossa mãe, quando tínhamos à volta de quatro, cinco anos, pois nessa altura não havia classificação etária. Mas também íamos algumas vezes ao Viriato, acompanhados por colegas da escola e do liceu, e nessa eventualidade ocupávamos os antigos camarotes de segunda ordem, que funcionavam como a geral do Teatro Avenida e custavam a módica quantia de dez tostões.
Éramos como Les Enfants du Paradis do belíssimo filme do célebre realizador francês Marcel Carné, nessa busca jamais mitigada de um enlevo de imagens que nos devolvesse a cinzenta realidade da nossa infância e juventude, amordaçada pelo salazarismo, na embalagem de luxo da sétima arte.
E uma vez aconteceu, quando era projectado no velho Viriato um filme histórico passado na antiga Roma, numa sequência em que uma formosa aristocrata completamente nua tomava um banho de imersão em leite de burra, ouvirmos um frequentador dos camarotes altos do teatro gritar alto e bom som que dali se via tudo. Claro que isso não era verdade, a imagem do cinema é plana, via-se a mesma coisa da plateia e dos camarotes, mas o dito espirituoso teve o condão de transformar um filme histórico num filme cómico.
Foi no Teatro Viriato que teve lugar a primeira projecção cinematográfica em Viseu. Isto deveu-se a uma iniciativa do Senhor Luciano, um comerciante muito conhecido na cidade que era proprietário de uma cervejaria que se situava mesmo em frente do teatro e que tinha o nome sugestivo de Cervejaria Cinema.
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