EXISTE AMOR NO CIBERESPAÇO?
Notável intelectual polonês e grande expoente da antropologia social, Bronislaw Malinowski deixou como legado para a ciência o desenvolvimento de um método de investigação de campo a partir de seus estudos com o povo Mailu, e, posteriormente, suas pesquisas realizadas nas Ilhas Trobriand no início do século passado.
Contribuições significativas para a ciência de seu tempo, estes estudos não deixam de fazer algumas considerações sobre os relacionamentos de natureza romântica. Sob a ótica do antropólogo, "o amor é uma paixão tanto para o melanésio quanto para o europeu, e atormenta a mente e o corpo em maior ou menor extensão; conduz muitos a um impasse, um escândalo ou uma tragédia; mais raramente ilumina a vida e faz com que o coração se expanda e transborde de alegria."
Seja como tormento ou como fonte de alegria, parece razoável afirmar que o amor é afeto suficientemente importante para subverter a ordem de nossos dias, sobrepondo-se a velhos hábitos e rotinas nem sempre de maneira muito conforme.
A contribuição do sociólogo britânico Anthony Giddens acerca do tema aponta para o fato de que "o amor apaixonado é especificamente perturbador das relações pessoais, em um sentido semelhante ao do carisma; arranca o indivíduo das atividades mundanas e gera uma propensão às opções radicais e aos sacrifícios. Por esta razão, encarado sob o ponto de vista da ordem e do dever sociais, ele é perigoso."
Separadas por cerca de sete décadas e meia, as considerações de Malinowski e Giddens possuem valor na medida em que se apresentam como atemporais: resistem ao tempo e se provam válidas desde que registradas da pena para o papel, verdadeiras radiografias da alma humana.